terça-feira, 27 de outubro de 2009

DRAMATURGIA : JOÃO DENYS


FOTO DE DEUS DANADO DE JOÃO DENYS DIREÇÃO DE HERÊ AQUINO

FOTO DE ENCRUZILHADA HAMLET TEXTO E DIREÇÃO DE JOÃO DENYS



As palavras, nos escritos de João Denys, vêm marcadas pelo sol do sertão nordestino e por um sentimento de terra na alma, só possível nessa região em que o repente e a alta poesia andam de mãos dadas. De fato, é “um universo singular”, como diz Maria Helena Kühner em seu belo artigo, prefácio à edição em livro da peça “Flores D`América”, recentemente lançado em Recife. Prefácio que reproduzimos nesta edição de antaprofana, abrindo a coluna "Personalidades", para a divulgação de artistas e teóricos cujo trabalho represente contribuição ao desenvolvimento da arte dramática nacional. Caso evidente desse grande dramaturgo, ensaísta, encenador e professor de teatro, que é João Denys. Para melhor apresentá-lo aos que não o conhecem, aqui vai também um empolgado (mas nem por isso menos fiel ao original) retrato feito por Josmard Muniz de Britto, seu parceiro em algumas aventuras literárias e conterrâneo, pois nascido no mesmo chão poético. João Denys é um homem tranqüilo, mas com faísca nos olhos. Desses sujeitos cujo sorriso, sempre pronto a iluminar-lhes as faces, revela não ironia ou sarcasmo, mas genuíno encantamento pelas coisas do mundo. E é isso o que dizem seus textos dramáticos. Ainda que no horror da miséria, seja material ou espiritual (ou ambas, já que elas não gostam de se verem distantes), há alguma coisa de encantado, há alguma coisa pela qual a vida se justifica. Se justifica em palavras que transfiguram sonhos em realidade e tornam a realidade coisa superior, sempre ligada ao Divino. Mas, além da sua obra dramática, do seu trabalho como encenador (um dos principais do Nordeste), do ofício de ensinar, que desde 1986 pratica na UFPE, ressalta-se também o ensaísta. É de sua autoria um dos melhores ensaios sobre a dramaturgia brasileira publicado nos últimos anos: “Um Teatro da Morte”. Nele, João Denys analisa com extrema sensibilidade a obra de Joaquim Cardozo, procurando entender, como consta do sub-título da obra, a “tranfiguração poética do Bumba-meu-boi e desvelamento sociocultural na dramaturgia” desse poeta dramático tão injustamente esquecido, que é Joaquim Cardozo. O ensaio de João Denys não só faz justiça à grande arte de Cardozo, como se revela à altura em inteligência e engenho poético. Desse modo, ao abrir espaço a dramatugos e intelectuais do teatro brasileiro, pouco conhecidos fora dos seus redutos, ou ainda muito novos no pedaço, antaprofana orgulha-se em apresentar aos seus visitantes o poeta dramático, teórico e encenador potiguar, naturalizado pernambucano, João Denys de Araújo Leite.




Sebastião Milaré