segunda-feira, 27 de julho de 2009

EM NOME DO DESEJO - DE JOÃO SILVÉRIO TREVISAN DIREÇÃO DE ANTÔNIO CADENGUE - DRAMATURGIA E SEXUALIDADE(S)

Em Nome do Desejo é a segunda montagem da Companhia Teatro de Seraphim, do Recife, dirigida por Antonio Cadengue. Na primeira metade da década de 1990, o espetáculo alcança expressiva repercussão e recebe o reconhecimento da crítica e do público nas diversas cidades brasileiras por onde excursiona.
Originalmente, a montagem é concebida como prova pública do Curso Básico à Formação do Ator, da Fundação Joaquim Nabuco - Fundaj, onde Antonio Cadengue ministra a disciplina de improvisação/interpretação. O resultado do trabalho supera as expectativas, e as três apresentações programadas se estendem por uma temporada de um mês no Cineteatro José Carlos Cavalcanti Borges.
Terminadas as obrigações institucionais com a Fundaj, Cadengue incorpora o espetáculo ao repertório da Companhia Teatro de Seraphim - CTS, preservando o elenco original quase integralmente e prolongando a temporada até maio de 1990. Dois anos depois, dentro do Projeto Seraphins Revisões, o grupo faz a segunda montagem de Em Nome do Desejo. Dá-se, então, o aperfeiçoamento técnico e estilístico da encenação.
A peça se baseia no romance homônimo de João Silvério Trevisan, e aborda a crise de um homem que decide retornar ao seminário em que estuda 25 anos antes e vive uma intensa paixão por outro seminarista. Uma viagem de volta a si mesmo, em que o protagonista retoma suas memórias, particularmente as lembranças desse amor que o marca profundamente.
Na primeira versão, o crítico Valdi Coutinho percebe que, apesar do elenco estreante, Em Nome do Desejo extrai a potência dramática do texto e "o nível do espetáculo, como um todo, consegue passar uma energia e emoção irresistíveis para a platéia, que termina contaminada pela cena e envolvida no drama, transcorrido num clima de encantadora sensualidade".1 Em outro artigo constata que, com essa peça, "a cena pernambucana ganha um dos mais bonitos textos e um dos mais impressionantes momentos de sua história".2
O aspecto fundamental de ambas as versões do espetáculo, que também caracteriza o romance, é a dicotomia carne/espírito. A encenação é conduzida por um narrador, que também é o protagonista da história em sua fase adulta (Ticão). Por meio de sua fala, o espectador acompanha em flashback a trajetória do jovem Tiquinho no seminário: dos primeiros contatos com o ambiente religioso até o início de sua amizade com Abel Rebebel, culminando na paixão de ambos e, depois, no seu rompimento.
Com esse espetáculo, a CTS se consolida e divulga seu trabalho para além das fronteiras geográficas e culturais da Região Nordeste, pois Em Nome do Desejo é o primeiro espetáculo do grupo a viajar para São Paulo e Rio de Janeiro, além de participar do primeiro Porto Alegre em Cena.
O crítico Edelcio Mostaço assim resume a encenação: "O espetáculo de Antonio Cadengue equilibra-se sobre o difícil fio que interliga o tema à sua realização, sem que despenque quer para o patético quer para a facilitação melodramática. Dosando com perícia seus ingredientes, o encenador vai destilando-os e, mesmo sem desprezar certas convenções de efeito garantido junto aos espectadores, sabe encontrar a medida adequada para a criação sensível. O resultado é uma equilibrada composição que mescla o realismo poético com efeitos dotados de modernidade, capaz de ser arrojada e sem hermetismos".3

Nenhum comentário:

Postar um comentário