segunda-feira, 27 de julho de 2009

ÓPERA DE NEWTON MORENO DIREÇÃO DE MARCONDES LIMA - DRAMATURGIA E SEXUALIDADE(S)

Com Ópera pretendemos projetar reflexões, não apenas sobre a dimensão do tema homoerótico e seus desdobramentos. Mas fazer pensar também sobre a amplitude de posturas contemporâneas, ligadas à linguagem teatral, e sobre a manutenção de possíveis diálogos com a queer culture. Foi e continua sendo um exercício criativo arriscado e provocativo. O resgate histórico e a valorização da poética marginal que caracterizava o trabalho do Vivencial, junto com uma embalagem conceitual camp, não parecem agradar aos adeptos de purismos ideológicos e artísticos. Talvez por isso um intelectual demonstre seu des-gosto afirmando que levamos “para o palco uma boate gay” em contraponto a um artista que diz ser Ópera um espetáculo homofóbico. Há quem preferira ficar lendo apenas as bordas do abismo ao qual, por vezes, o teatro pode nos transportar. Seguindo os mesmos princípios filosóficos que nortearam o primeiro trabalho, escolhemos como matéria prima a não menos explosiva e inquietante escrita de outro autor pernambucano: Newton Moreno. Mas não os textos escritos para teatro. Seu livro até agora inédito, com título ainda provisório, nos ofereceu quatro contos para serem transpostos para a cena: O Cão, Troféu, Culpa e A Ópera. São muitas as semelhanças e diferenças entre as obras de Marcelino e Newton. O parentesco do humor corrosivo e politicamente incorreto, do discurso não afirmativo e anti-panfletário, da ausência de julgamento moral sobre falas e atos dos personagens. A grande diferença é que os contos escolhidos do primeiro autor, em sua maioria, são verdadeiros monólogos enquanto aqueles escritos pelo segundo não são narrados na primeira pessoa. Sendo assim, resolvemos radicalizar em tudo: se em Angu nós não tocamos em nenhuma vírgula do texto original, em Ópera nós eliminamos, condensamos, ampliamos, fragmentamos, fizemos associações sobre as palavras de Newton, tudo com seu consentimento. Aliás, ele participou diretamente nessa transcriação coletiva. Em Angu o texto levava o ator a um jogo de cena solitário, em Ópera, fomos ao posto, propondo o máximo de interações entre os performers e acentuando ao máximo o caráter metateatral e metalingüístico que aparece em Angú muito suavemente. Nossa séria brincadeira se fez assim. O espetáculo estreou em janeiro de 2007 e fez uma curta temporada no teatro Apolo, sendo bem recebido pelo público e pela crítica.

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