quarta-feira, 29 de julho de 2009


O IMPÉRIO DO MAL E O ESTILO MACABRO LATINO-AMERICANO
Por Gustavo Ott
Tradução: Wellington Júnior
A velocidade impõe estados de ânimo, caráter, juízos e atitudes que nos envergonham de cruzar a esquina. A rapidez banaliza nossa vida. Na lógica dos acontecimentos perversos, penso na obra de arte que indaga sobre a violência, essa que oferece resistência suficiente na superfície. Porque é no mal onde os mecanismos de idiotização perdem o controle.
O mal pensa uma acepção pastoral, o mal promete e quando não satisfaz as expectativas então é capaz de ir a extremos. Sobrevivência e conservação, pertinência e pensamento parecem obrigatórios para entender a violência como herói e o mal como escudo. A crueldade – ou seu combate – nos fazem sentir que estamos vivos.
O que acontecerá quando o mal se separar de seu rol sagrado? A obra de arte latino-americana – e quero dizer mais especificamente sua dramaturgia, mas não seu pensamento – tem encontrado neste tema um estilo poético para o mal, uma corrente identificável em São Paulo, Rio de Janeiro, Caracas, Cidade do México, lugares onde o desinteresse patético pela vida se encontra de frente com o ‘politicamente correto’ americano e a conspiração do consenso europeu.
Temos descanonizado o passado sobre as aspirações do presente, temos aberto a embalagem da grande cultura e temos também esvaziado seu conteúdo até permanecermos com nada ou quase nada. A América Latina parece encontrar no tema do mal um novo e profícuo campo de resistência, como tinha feito em sua percepção do real no boom dos anos 60. É um estilo macabro, impermeável ao mundo desenvolvido, às consciências lights, às previsões do futuro.
Sem embargo, no terreno dessa América latina – empenhada no fracasso e no desperdício do século XX – há uma convivência entre o mal e a velocidade, ambos em uma dinâmica que nos fazem conceber a transcendência em ação. A ação na maneira da imagem e seu despojo ético. De novo, o mal termina por expulsar todos nós – sérvios, latinos – do outro lado da televisão e nos impõe não com sua capacidade de sedução ou beleza ou sensualidade, e sim desenvolvendo o que jamais pensamos que poderíamos degenerar o mal, ou seja, com o melhor da Europa pós-violenta de hoje: seu cretinismo.
O mal então chega tembém a ser imbecil, em uma de suas transformações mais espetaculares alcançadas jamais pelas condutas e pensamentos humanos. É Fujimori retratado entre cadáveres, balançando a bandeira peruana, com seu colete anti-balas e seu rádio, relembrando os heróis nos cinemas. Fujimori e seu Rambo-performance dão um sentindo repugnante, mas interessa as palavras de Leah Rabin quando assassinaram seu marido, o primeiro-ministro de Israel:
“os reais inimigos das idéias libertadoras são a mídia. Seu negócio é inventar uma realidade conveniente, produzir uma notícia, e nos convencer de sua verdade, de qualquer maneira ...”

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