segunda-feira, 27 de julho de 2009

NEWTON MORENO(II)-DRAMATURGIA E SEXUALIDADE(S)


FOTO DO ESPETÁCULO "DENTRO" DE NEWTON MORENO

FOTO DO ESPETÁCULO "AGRESTE" DE NEWTON MORENO

Newton Fábio Cavalcanti Moreno (Recife PE 1968). Autor, diretor e ator. Radicado em São Paulo desde 1990, desponta a partir de 2000 especialmente no âmbito da escrita teatral. Sua dramaturgia manifesta influências da cultura popular, herança da origem nordestina, e compreende temas de impacto em torno do homoerotismo, tônica atemporal que transita entre o campo e a cidade.
É dirigido por artistas como João das Neves, Maria Thaís e Marcio Aurelio durante a formação como ator na Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, concluída em 1995. Na década seguinte, concilia criações e estudos em pós-graduação na Universidade de São Paulo - USP: conclui mestrado em 2003 e ingressa no doutorado em 2007. Figura entre os autores brasileiros que realizam intercâmbio numa das principais instituições mundiais de fomento à dramaturgia, The Royal Court Theatre, Londres, em 2005.
O ambiente da Unicamp dá origem à companhia Os Fofos Encenam, da qual é um dos fundadores, em 2000. A profissionalização do grupo ocorre com a direção de seu primeiro texto, Deus Sabia de Tudo e Não Fez Nada, em 2001. São cinco esquetes cômicos de amor entre homens, às vezes como crítica à discriminação. Um dos quadros fictícios dá conta do que teria sido a primeira relação homossexual no Brasil, entre um índio e um português.
Em paralelo à companhia, a peça curta Dentro é apresentada na Mostra de Dramaturgia Contemporânea do Sesi, com direção de Nilton Bicudo, em 2002. No poema dramático, conforme o autor, um homem rememora a paixão por um garoto na infância. A estudiosa Sílvia Fernandes analisa a representação do amor gay: "A peça explora a complexidade de relacionamentos e práticas homoeróticas na narrativa polêmica de um 'fist-fucking', aproximando-se de Jean Genet em Nossa Senhora das Flores, na combinação de primitivo e simbólico e na mistura de carne e alma que resultam numa síntese poética do comportamento marginal e da vida de riscos".1
A peça de maior repercussão é a quarta a ser encenada, Agreste, direção de Marcio Aurelio, em 2004. Ganha os prêmios Shell de Teatro e Associação Paulista dos Críticos de Artes - APCA, ambos por melhor texto. O projeto é da companhia Razões Inversas, capitaneada por seu ex-professor Marcio Aurelio. A sexualidade manifesta retorna à cena para expor mecanismos de supressão do outro, do "diferente", numa narrativa sofisticada que equilibra o épico político e o imaginário popular.
O pesquisador Antônio Rogério Toscano situa o experimento formal do texto: "Marcio Aurelio encontrou em Newton Moreno um vetor poderoso de continuidade para sua pesquisa que atravessa décadas. O tom regionalista da fala e as 'incelenças' a serem cantadas no enterro sertanejo foram peneirados pelo formalismo extremado do jogo dos atores. Texturas cênicas foram criadas com linhas e pesos, evidenciaram os aspectos cruéis da narrativa e uma outra escritura, grafada no espaço e no tempo, nos sons e nas luzes, desdobrou-se do desejo original da fábula homoerótica de Newton Moreno. Texto-material, esboço: o desejo está no centro gravitacional da dramaturgia do autor".1
Escrita como resultado de pesquisa financiada pela extinta Fundação Vitae, Assombrações do Recife Velho marca o retorno ao berço, em 2005. Ele próprio dirige Os Fofos na livre adaptação da obra homônima do sociólogo Gilberto Freyre. São personagens populares que contam histórias de fantasmas e de figuras sobre-humanas (Lobisomem, Papa-Figo, Boca-de-Ouro, etc.), sempre evocados numa atmosfera de humor e mistério.
Nos projetos paralelos, colabora para a segunda das três peças que compõem Západ, A Tragédia do Poder, da Companhia Balagan, dirigida por Maria Thaís, recorrendo ao imaginário arquetípico e alegórico em torno das personagens de Ivan, o Terrível e a Rainha Elizabeth; e em A Refeição, direção de Denise Weinberg, e VemVai - O Caminho dos Mortos, de Cibele Forjaz, com a Cia. Livre, o autor sublinha o caráter antropofágico de sua obra; descola-a do domínio homoerótico e aponta a lupa para outras entranhas da condição humana, todas montagens de 2007. Ainda neste ano, escreve em colaboração com Alessandro Toller e o Núcleo Experimental do Sesi, Fronteiras, assinando também a direção.
Newton Moreno também tem atividades como ator, tendo participado de Senhorita Else, de Arthur Schnitzler, 1997; O Maligno Baal, de Bertolt Brecht, 1998; e A Arte da Comédia, de Eduardo De Filippo, 1999, todas produções do grupo Razões Inversas, com direção de Marcio Aurelio. Em 2000, é a única figura masculina a integrar o elenco de Sacromaquia, de Antonio Rogério Toscano, outra produção da Companhia Balagan e, em 2003, está em A Mulher do Trem, de Maurice Hennequin e George Mitchell, espetáculo da companhia Os Fofos Encenam.
Notas
1. FERNANDES, Sílvia. Subjetividade, paródia e polêmica dominam novo ciclo. Folha de S.Paulo, São Paulo, 23 de junho de 2002. Ilustrada.

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